Como é ser imigrante – os desafios de se adaptar a um novo país

Michele

Como é ser imigrante – os desafios de se adaptar a um novo país

Algumas pessoas perguntaram nas redes sociais sobre como é viver fora e qual as maiores dificuldades? E também a grande questão: por que mudar? Então, a coluna é sobre essa vivência…

Há ditado para os dois lados: “por que trocar o certo pelo duvidoso?” e “quem não arrisca, não petisca.” Por isso, para saber se uma mudança de país vai acrescentar à nossa vida, só mesmo experimentando. Quando decidimos vir para Portugal, foi um projeto para fazer Mestrado e experimentar a vida fora do Brasil. A escolha do país foi pela facilidade da língua e tendo em consideração que meu marido e minhas filhas têm passaporte europeu – eles têm nacionalidade italiana.

O último mês no Brasil foi um misto de ansiedade e de expectativa em relação ao novo país, mas também daquele frio na barriga pelo receio da mudança, além das lágrimas de despedidas e abraços prolongados de amigos e familiares. Ao chegar em terras lusitanas, chegaram também as novidades, as dúvidas, os desafios… Chegamos em pleno inverno europeu e período de muita chuva no norte de Portugal. E apesar de estarmos habituados ao frio do nosso Rio Grande, a falta de sol para lagartear por várias semanas seguidas, foi o primeiro desafio. Ainda bem que  estar em um novo lar – um novo apartamento, no caso -, também foi novidade e organizar tudo foi o melhor passatempo. Sempre digo para quem me pergunta o que precisa para enfrentar o inverno aqui, que capa de chuva e galocha são itens prioritários – porque os guarda-chuvas não resistem ao vento forte (risos).

Os primeiros meses, são para dar um “start” na nova experiência, documentos, papelada, cadastro em posto de saúde, tem mesmo muita burocracia, mesmo vindo com visto e autorização para morar em Portugal. E posso dizer que até hoje, ainda resolvo pequenas questões burocráticas, porque todo documento que se faz pela primeira vez tem validade e procedimentos necessários com o passar do tempo. Para quem vem com filhos em idade escolar – como foi o nosso caso – também tem a procura por escola. O bom é que ficamos tão envolvidos entre processos e novidades, que não dá tempo para deixar a saudade nos abalar… ela está conosco, mas quieta, guardada.

Lembro como se fosse hoje, o primeiro dia que minha filha mais velha foi para a escola. Eu estava feliz por encontrar vaga, porque ela ia conhecer pessoas novas, mas também muito apreensiva em como seria a recepção, a professora, os colegas. De mochila nas costas, ela foi a passos firmes, feliz e confiante! Mas e o coração de mãe – aflito até a hora da saída. Como se diz aqui “correu tudo lindamente”! Para o meu alívio…

Outro item interessante da adaptação foi a mobilidade. Nós ficamos um período sem carro – e como caminhar com chuva estava fora de hipótese, o jeito foi aprender a andar de ônibus – autocarro como se chama aqui. Descobrimos um aplicativo que informa horários, linhas e trajetos; compramos um cartão que se paga antecipado para o valor da viagem sair mais barato e tudo foi se ajeitando. Os trajetos de autocarro, também são ótimos para ampliar o nosso círculo de amizades – que começou com os pais dos colegas de escola da minha filha. Muitos brasileiros andam de ônibus – pode ser arriscado chegar e já gastar com carro. E quando a chuva parava, caminhar pela cidade com ruas estreitas e cheias de histórias foi uma descoberta maravilhosa.

Quando as coisas se encaminham, a saudade entra em cena. Vem o aniversário de alguém que se ama; vem a festa da família; chega o dia dos pais e das mães… e você? Você está longe. Para mim, o maior desafio foi entender que a vida é feita de escolhas e que todas elas têm consequências boas e más… tudo bem ônus e bônus. E mais importante, você não tem que sentir culpa por estar longe, afinal quem te ama também está torcendo pela tua nova experiência, por teu sucesso… mas escrever isso é fácil, pôr em prática requer tempo, maturidade e reflexão.

Já escrevi aqui que a tecnologia é uma bênção para quem vive longe dos seus… imaginem quem emigrava no tempo em que só tínhamos cartas para nos comunicar? Hoje, temos voz e vídeo em tempo real. Não tem o calor de um abraço, mas ajuda muito a “conviver” com familiares e amigos, mesmo à distância. Nesta fase, também é importante fazer novos amigos; ter pessoas com quem conversar, com quem sair, as crianças precisam de parceria para brincar. A parte positiva neste aspecto é estar em Braga, onde vivem muitos brasileiros, todos passando pelo mesmo processo de mudança e adaptação, todos à procura de novas parcerias. Não que as amizades se restrinjam aos conterrâneos, mas é essa a forma mais fácil de começar.

Depois de um período longe, a melhor coisa é quando os amigos e familiares que têm a possibilidade de viajar, aparecem para te visitar. É muito bom recebê-los. Meus pais, minha irmã, meus sogros, meus compadres, minha prima, alguns amigos já vieram aqui. Estar com a nossa gente renova as energias. Por isso, se alguém pensar em morar fora por um tempo, já avise as pessoas mais queridas para fazerem uma poupança, terem passaporte e perderem o medo de voar (risos).

Em agosto deste ano, recebemos a visita surpresa dos nossos compadres – padrinhos da minha filha mais velha. Eles fizeram uma chamada de vídeo, como costumam fazer aos finais de semana para falar conosco, mas quando vimos na imagem, eles estavam na rua onde moramos, mesmo à porta do nosso prédio. Demorou uns segundos para cair a ficha! Mas quando caiu, foi mesmo emocionante! Por mais que façamos novos amigos, para quem se muda depois de adulto, receber o carinho das amizades construídas durante anos é indescritível.

Dependendo do tempo que vai ficar fora, há outra questão importante que é buscar um trabalho. Porque ninguém consegue viver só com as economias – ou pelo menos, a maioria não consegue. É preciso um emprego que pague na moeda no país – isso se o visto que a pessoa tem, dá o direito de trabalhar. Alguns tipos de visto, não permitem a atividade profissional. E aí a grande questão é estar disposto a fazer coisas diferentes das quais fazíamos no Brasil. Por várias razões, nem sempre é fácil e barato validar o diploma aqui, nem sempre tem emprego na nossa área de formação e, além do mais, é comum para quem muda de país experimentar novas tarefas… tem muitos imigrantes na área de hotelaria, restaurantes, no comércio. Tem advogados, engenheiros trabalhando de corretor imobiliário, por exemplo. É preciso estar aberto a novas possibilidades.

Para uma boa adaptação de quem quer se aventurar por aí, longe de casa, eu diria que é preciso disposição, persistência, e apoio da família e dos amigos. Disposição para encarar a mudança e organizar toda a “virada” que se dá na vida, persistência porque algumas coisas precisam de tempo para se resolver e não se pode desistir no meio do caminho. E os amigos e familiares; os novos amigos que estão na mesma situação que você, a família e as amizades de toda vida que precisam te apoiar mesmo estando do outro lado do oceano. A mudança nos faz crescer, a experiência sem dúvida é enriquecedora e os desafios que surgem são lições para a vida.

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